São Paulo investindo
Canalização
dos córregos Água Preta e Sumaré devem diminuir transtornos causados pelas
chuvas na Zona Oeste de São Paulo
Ao ampliar a vazão dos córregos, Prefeitura espera
melhorar as condições da região famosa pelos alagamentos recorrentes
Por Paulo
Hebmüller
Edição
62 - Setembro/2016
Reconhecida pela existência de
muitas ruas com declive acentuado, favorecendo o acúmulo da água
das chuvas nos pontos mais baixos do bairro, a região entre Perdizes e Pompeia,
na zona Oeste da capital paulista, ganhará um reforço para sanar o problema com
a construção de novas galerias de canalização dos córregos Água Preta e Sumaré.
A ideia geral do projeto é prover dois grandes pontos de captação nas áreas de
maior concentração - para o Água Preta, a confluência da Av. Pompeia com a Av.
Francisco Matarazzo e a R. Palestra Itália e, para o Sumaré, a Praça Marrey
Júnior -, levando a água para desembocar na Marginal do Rio Tietê.
AdicAguardada pela população local há mais de 20 anos, a obra para aumentar a vazão dos córregos foi iniciada em julho de 2013 e deve ser entregue no final de setembroionar legenda |
'É muito difícil afirmar que as
enchentes na região vão terminar, mas certamente os problemas serão bastante
minimizados', acredita Osvaldo Misso, secretário-adjunto da Secretaria
Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo (Siurb).
Aguardada pela população local há
mais de 20 anos, a obra da prefeitura para aumentar a vazão dos córregos foi
iniciada em julho de 2013 e deve ser entregue no final de setembro. O custo
final da operação é estimado em aproximadamente R$ 200 milhões.
Para Misso, a intervenção - mesmo
ainda incompleta na ocasião - já deu boa resposta no último período de chuvas
mais intensas. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da
capital, o acumulado de chuva na região da Subprefeitura da Lapa - onde estão
os dois córregos - chegou a 1.306,9 mm entre novembro de 2015 e abril de 2016,
o maior índice entre os seis anos considerados no levantamento. O número de
ocorrências de alagamentos na região dos córregos Água Preta e Sumaré,
entretanto, foi de apenas três, contra 16 no período anterior e 20 entre 2012 e
2013. "A obra já mostrou funcionalidade no último verão", aponta
Misso, ressaltando que no caso do Água Preta a capacidade de vazão foi mais do
que duplicada.
As antigas galerias de
canalização possuíam a dimensão de 2,70 m x 1,80 m. Elas foram conservadas e
permanecem em utilização, ao lado das novas. No Água Preta, que vem da região
do bairro de Vila Pompeia, são 3.300 m de comprimento. Com a construção de
1.370 m de novas galerias, a capacidade de vazão será estendida dos atuais 13
m3/s para 31 m3/s.
FICHA TÉCNICA
Obra: Drenagem dos córregos Água Preta e Sumaré (São Paulo) Características: 1.370 m de novas galerias pluviais para aumento da capacidade de vazão para 31 m³/s Total construído: 3.395 m Localização: Av. Pompeia com Av. Francisco Matarazzo e R. Palestra Itália (Água Preta) e Praça Marrey Júnior (Sumaré) Construtora: Engeform e Passareli, com recursos da Prefeitura de São Paulo via Operação Urbana Consorciada Água Branca Início da obra: julho de 2013 Conclusão: setembro de 2016 Custo final estimado: R$ 200 milhões |
No Sumaré, que corre pela avenida
de mesmo nome, são 3.700 m de extensão. Foram construídos 2.025 m de galerias,
ampliando a vazão de 24 m3/s para 31 m3/s. As novas galerias têm 3,50 m x 3 m
e, nas travessias, anéis circulares de 3,60 m de diâmetro.
O secretário-adjunto explica que
a obra contratada inicialmente previa processos mais destrutivos. Revisões
posteriores indicaram que não havia necessidade de fazê-la nesse modelo, e a
opção foi por um sistema misto entre vala a céu aberto (VCA) e túneis, com a utilização
de técnicas não destrutivas. No Água Preta, há uma passagem sob a Av. Francisco
Matarazzo e também sob a linha férrea da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM), no trecho entre as estações Palmeiras- Barra Funda e
Água Branca.
As novas galerias para o córrego
Sumaré se iniciam na Praça Marrey Júnior, seguem no sentido da R. Padre Antônio
Tomás (contornando o Allianz Parque, erguido a partir do antigo estádio
Palestra Itália, do Palmeiras) e atravessam a Av. Francisco Matarazzo.
Os dois
ramais se juntam após a passagem sob a linha férrea, na R. Gustav Willi
Borghof, e a rede segue a céu aberto até novo túnel sob a Av. Marquês de São
Vicente para desembocar na Marginal do Rio Tietê.
Em dois pontos o traçado das
novas galerias do Água Preta encontrou redes coletoras de esgoto. No primeiro,
foi necessário fazer um remanejamento do coletor, com a utilização de tubo
cravado de 1,20 m de diâmetro. No local, nas imediações de uma unidade da rede
Kalunga, houve a desapropriação de uma área, único caso em toda a obra.
No segundo ponto, para a
construção do túnel sob a Av. Marquês de São Vicente, próximo à Praça José
Vieira de Carvalho Mesquita, optou-se pelo sistema de sifão. De acordo com
Osvaldo Misso, o coletor de esgoto existente ali pertence a uma rede antiga,
que utiliza manilhas encaixadas. "Qualquer tipo de mexida no local poderia
trazer um transtorno grande para a rede", diz o secretário-adjunto,
justificando a escolha. O trabalho para instalação do sifão naquele ponto foi
feito de forma bastante lenta e gradual para evitar problemas.
Água pluvial dos córregos Água Preta e Sumaré será canalizada para desembocar na Marginal do Rio Tietê |
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De acordo com Misso, ainda haverá
novas captações tanto no Sumaré quanto no Água Preta. Neste, uma das
instalações ficará na confluência das ruas Barão do Bananal e Venâncio Aires.
Essa esquina, por sinal, é um dos pontos críticos dos alagamentos
na região, a ponto de propiciar a formação de verdadeiros redemoinhos
quando ocorrem chuvas mais intensas. Os moradores de muitas casas por ali já
instalaram degraus extras e portões com a aparência (e a função) de comportas
para bloquear o avanço indesejado da água.
Essa obra ficará a cargo da
Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), porque está prevista a
construção da estação Sesc Pompeia da futura Linha 6 - Laranja no local.
Segundo a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, durante a implantação do
metrô, as águas pluviais do canteiro de obras da Estação Sesc Pompeia serão
captadas e encaminhadas às galeriais existentes. As obras se estenderão até
2021.
Travessia
desafiadora
Um dos desafios do projeto foi a construção dos novos túneis sob a linha férrea da CPTM, cujas operações, especialmente no transporte de passageiros, não poderiam ser paralisadas. Embora Misso ressalte que as negociações entre a prefeitura e a empresa estadual tenham sido complexas e demandado bastante tempo, foram alcançados os entendimentos para a viabilização técnica do trabalho.
Um dos desafios do projeto foi a construção dos novos túneis sob a linha férrea da CPTM, cujas operações, especialmente no transporte de passageiros, não poderiam ser paralisadas. Embora Misso ressalte que as negociações entre a prefeitura e a empresa estadual tenham sido complexas e demandado bastante tempo, foram alcançados os entendimentos para a viabilização técnica do trabalho.
Na travessia da rede ferroviária,
tanto para o ramal do Água Preta quanto para o do Sumaré, empregou-se o sistema
de tunnel liner, considerado não destrutivo. A técnica é utilizada para a
abertura de túneis estruturados com segmentos de aço corrugado e indicada para
a realização de obras subterrâneas em diversos tipos de solo, especialmente em
áreas urbanas. O processo é feito com a escavação modular do solo, numa
dimensão apropriada para permitir a instalação das chapas de aço, que são
conectadas entre si. À medida que se avança, são instaladas as chapas
metálicas, que cumprem a função de revestimento e contenção. A cada segmento
montado de túnel, é possível a escavação do anel seguinte. Concluída a montagem
dos anéis, é feito o revestimento em concreto.
Outra tecnologia utilizada nas
travessias, especialmente sob as vias de tráfego, foi o Novo Método Austríaco
para Abertura de Túneis (NATM, na sigla em inglês). Nesse caso, a estrutura de
suporte é instalada logo após a escavação parcial do maciço. A estrutura é
feita com concreto projetado e, quando necessário, complementada por cambotas
metálicas, chumbadores e fibras no concreto. Uma de suas vantagens é a
adaptabilidade da seção de escavação, que pode ser modificada em qualquer
ponto, de acordo com as necessidades geométricas e de parcialização da
escavação.
" O tunnel linear é indicado para qualquer tipo de solo. Já o NATM precisa de condições melhores e não pode
ser utilizado em todos os locais", diz Misso. No desemboque para o Rio
Tietê, sob a Marginal, houve a utilização de enfilagens para garantir a
estrutura após o uso do NATM. A enfilagem tubular injetada é um método de
injeção de calda de cimento por meio de tubos em maciços, utilizado para
aumentar a estabilidade em solos de baixa resistência em zonas de escavação.
Em vários pontos da obra houve a
necessidade de fazer a recomposição do solo, porque foram encontrados resíduos
classe II, considerados não perigosos de acordo com a Norma NBR 10.004 da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Nesses casos, o material foi
retirado e levado para aterros especiais, fazendo-se a recomposição do local.
Vale lembrar que algumas das áreas abrangidas pela obra já sediaram indústrias
em outras épocas, o que provavelmente está na origem dos problemas detectados.
De acordo com o
secretário-adjunto, mesmo que as obras tenham sido realizadas em locais de
tráfego intenso, a escolha por métodos não destrutivos permitiu minimizar os
impactos no trânsito. A Av. Francisco Matarazzo, por exemplo, registrava em
2015 um volume médio de 2.354 veículos por hora no sentido bairro-centro,
conforme números da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo.
Inevitavelmente, porém, houve
reflexos. Eles foram sentidos, por exemplo, na maior lentidão do trânsito no
cruzamento da Matarazzo com a Av. Pompeia, quando uma das pistas desta última
foi interditada para outra intervenção do projeto - a implantação de grelhas e
canaletas para compor um sistema de microdrenagem. O conjunto é formado por
quatro novas galerias que funcionam como ramais e atravessam a Av. Pompeia
entre a Praça Raízes da Pompeia e o Shopping Bourbon. Os quatro ramais, que têm
1,60 m de largura, estão ligados a uma galeria de 2,60 m x por 2 m que
direcionam a água coletada à nova galeria do Água Preta. As grelhas de ferro
fundido aguentam o impacto de veículos pesados de até 40 t. O sistema de
microdrenagem foi instalado também na Praça Marrey Junior, no ramal do córrego
Sumaré.
Operação Água
Branca
As obras de ampliação da capacidade de escoamento das galerias dos córregos Sumaré e Água Preta integram a Operação Urbana Consorciada Água Branca, coordenada pela prefeitura com a participação de proprietários, moradores, usuários e investidores. A operação visa implementar transformações urbanísticas, sociais e ambientais na região, que inclui bairros como Água Branca, Perdizes e Barra Funda e possui uma boa infraestrutura de transportes, próxima das rodovias Castelo Branco, Anhanguera, Bandeirantes e do Terminal Palmeiras-Barra Funda (no qual operam metrô, CPTM e ônibus).
As obras de ampliação da capacidade de escoamento das galerias dos córregos Sumaré e Água Preta integram a Operação Urbana Consorciada Água Branca, coordenada pela prefeitura com a participação de proprietários, moradores, usuários e investidores. A operação visa implementar transformações urbanísticas, sociais e ambientais na região, que inclui bairros como Água Branca, Perdizes e Barra Funda e possui uma boa infraestrutura de transportes, próxima das rodovias Castelo Branco, Anhanguera, Bandeirantes e do Terminal Palmeiras-Barra Funda (no qual operam metrô, CPTM e ônibus).
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Um dos objetivos da operação
urbana é justamente melhorar os sistemas de macro e microdrenagem para diminuir
os problemas de inundação ocasionados pela deficiência das redes e galerias.
Outros alvos incluem implantar um conjunto de melhorias para ligações de longo
percurso e a reestruturação do viário local, hoje fragmentado; adequar a
infraestrutura para dar suporte ao adensamento populacional; aumentar a
quantidade de áreas verdes e de equipamentos públicos; produzir unidades
habitacionais de interesse social e promover a regularização fundiária na
região.
O acelerado aumento no número de
moradores nos últimos anos é visível nas muitas torres de apartamentos que vêm
sendo erguidas, por exemplo, nos bairros de Perdizes, Vila Pompeia e Vila
Romana, substituindo o perfil anterior de casas térreas ou instalações
industriais que por vezes ocupavam quarteirões inteiros.
Além disso, surgiram novos
empreendimentos, como o Shopping Center Bourbon e a Allianz Parque, que atrai
não apenas jogos, mas também shows e outros eventos que geram tráfego e grande
afluência de público. Por sinal, exatamente o trecho da R. Turiassu que dá
acesso à entrada principal do estádio - recentemente rebatizada como R.
Palestra Itália - sempre esteve entre os mais castigados pelos alagamentos. As
próximas temporadas de chuvas vão demonstrar se o investimento alcançará o
objetivo de reduzir a ocorrência desses problemas.
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