Grandes parceiros, sábios parceiros
Comunidade
árabe busca maior aproximação com o Brasil
- Brasília
Marieta
Cazarré - Repórter da Agência Brasil*
Como parte das comemorações do
Dia da Comunidade Árabe no Brasil (celebrado no dia 25 de março), a Câmara
Legislativa do Distrito Federal recebe, até o dia 6 de maio, a exposição O
Mundo Árabe: Civilização e Diversidade. Segundo o argelino Nacer Alem,
embaixador da Liga dos Países Árabes no Brasil, a mostra ilustra as diferenças
religiosas, culturais e políticas entre os países da região e tem como objetivo
estreitar laços com a população brasileira.
“A civilização árabe tem uma
grande diversidade e muitas diferenças religiosas. Tem cristãos, muçulmanos,
judeus. A maioria é de muçulmanos, mas tem os xiitas e os sunitas, por
exemplo”, explica Nacer. Em certos países os casamentos são mistos e não tem
problema, mas em outros [países] tem uma festa dos homens e outra das mulheres.
E ambos países são muçulmanos”, comenta o embaixador.
O Brasil é um país que recebeu
intensa imigração árabe. De acordo com Nacer, a presença dos brasileiros de
origem árabe é estimada em 11 milhões de pessoas. “Ás vezes são descendentes
distantes, mas os brasileiros guardaram laços [com os países de origem], mesmo
não falando árabe. Certamente o fato de o Brasil ser miscigenado quando da
chegada dos árabes, facilitou as relações entre o Brasil e os países árabes. O
Brasil é muito acolhedor e essa diferença da cor da pele e da religião não é
tão visível”, afirmou.
O embaixador falou à Agência
Brasil também sobre temas como terrorismo, preconceito, economia, direito
internacional, entre outros. Em relação ao Estado Islâmico, Nacer afirmou achar
absurdo o uso do termo “Estado” por parte do grupo terrorista, uma vez que não
tem estatuto de Estado. Durante toda a conversa, o embaixador usou o termo
“Daesh” para se referir ao grupo.
“Não há nada na religião
muçulmana que autorize usar, em nome da religião, o termo Estado Islâmico para
matar. O suicídio é um dos grandes pecados na religião muçulmana. Deus não
aceita isso, é imperdoável. É pecado. Nada justifica alguém usar um cinto
explosivo para matar pessoas, ainda menos na religião muçulmana. Olhando de
perto o percurso, o currículo dessas pessoas, a maioria é de criminosos,
pessoas que tiveram um passado criminoso, no tráfico de drogas, de armas,
estupro, roubos”, afirmou Nacer.
Segundo o embaixador, a exposição
foi feita porque, quando se fala do mundo árabe, geralmente destaca-se a
situação da Síria, Estado Islâmico, Iraque, terrorismo. “Então, quando as
pessoas assistem a televisão acham que só há coisas negativas. O mundo árabe é
um mundo de paz e tolerância. Ninguém pode aceitar o terrorismo, massacres
explosivos, a morte inocentes em nome da religião”.
“O problema é que o terrorismo é
um fenômeno antigo. Aconteceu de uma maneira muito forte na Argélia, nos anos 1990.
Foram mais de 100 mil mortos em um conflito que durou uma década. Na época, o
termo não era utilizado pelo mundo ocidental, falavam em guerra civil, mas era
terrorismo. Eu saía de manhã de casa e não sabia se ia voltar, um ônibus ou
carro podia explodir. É verdade que o país não tinha um regime democrático, mas
nada justifica matar inocentes”.
A guerra civil argelina durou de
1991 a 2002, quando grupos radicais islâmicos tentaram tomar o poder, mas
acabaram sendo derrotados pelo governo da Argélia.
Em relação ao papel da Liga dos
Estados Árabes, Nacer explicou que a instituição, criada em 1945, servia,
inicialmente, para ajudar os países árabes a conquistar independência. Com o
passar dos anos, outros objetivos, como a defesa comum, a dimensão política e
econômica; a saúde, a justiça e o trabalho foram sendo desenvolvidos.
“Na área do transporte, por
exemplo, as regras e as leis são praticamente as mesmas para todos os países da
Liga. Há um projeto de conectar todos os países da Liga Árabe por vias férreas,
trens. O trecho entre Marrocos, Argélia e Tunísia já existe. O trecho do Sudão
com o Egito já existe, mas faltam alguns trechos, na Líbia, na Palestina, por
causa de problemas políticos com Israel. Mas podemos dizer que essa rede de
vias férreas está 80% feita”, disse.
Ele informou que existe também um
projeto de ligar todos os países por rede elétrica comum, porque as capacidades
são diferentes de um país a outro. A Argélia, em determinado momento do ano,
tem um excedente importante. O Egito, no verão, tem uma demanda enorme, que não
consegue suprir, por causa do nível do rio Nilo e do turismo. Então, a ideia é
repartir essa energia elétrica entre os países da Liga”, explica.
Nacer afirmou que, entre eles, há
um acordo de livre comércio. Alguns países protegem certos produtos para não
prejudicar a produção nacional mas, de maneira, geral, não há barreiras
tarifárias entre os países.
A Liga dos Estados Árabes é
composta por 22 membros: Arábia Saudita, Argélia, Bareine, Catar, Comores,
Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuaite,
Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Palestina, Síria (suspenso), Omã, Somália,
Sudão e Tunísia.
O embaixador afirmou que, apesar
de a Liga ter um papel importante na negociação entre os países, não há conselho
sobre segurança. Desta maneira, quando existem conflitos que tomam dimensões
internacionais é a Organização das Nações Unidas que toma a frente.
“O mundo árabe atravessa um
momento bem difícil. No exterior pode parecer que a Liga Árabe não assume seu
papel [nos conflitos], mas estamos sempre ao lado, trabalhando em colaboração
com o Conselho de Segurança da ONU e ajudando na resolução dos problemas”.
Para o representante da Liga,
manter relações com o Brasil é muito importante para os países árabes,
principalmente pelo peso que o país exerce política e economicamente na América
do Sul.
“Nas negociações internacionais é
preciso ter ligações com outros blocos regionais, outros países. O Brasil
sempre teve como foco o respeito ao Direito Internacional. E os países da Liga
Árabe concordam com esse aspecto. Nas discussões regulares do Brasil, sobre a
situação nos países árabes, como a Síria, o Brasil tem uma posição louvável. A
respeito da questão síria, o Brasil insiste na integridade territorial do país e
defende que não pode haver influências externas na escolha do governo. É
importante que tenham soberania, escolham seu governo e presidente. Isso é uma
posição forte e muito apreciada no mundo árabe”.
De acordo com Nacer, as relações
econômicas entre o Brasil e os países da liga são muito fortes e aumentam a
cada ano. Quase todos os países árabes têm relações comerciais aqui. Os
produtos que o Brasil mais exporta são: carne, frango, açúcar, café e madeira.
As importações são predominantemente de produtos petrolíferos, adubos, peças de
automóveis, concreto e sal.
Segundo a Câmara de Comércio
Árabe Brasileira, de 2002 a 2013, o comércio com os países da Liga Árabe passou
de US$ 4,9 bilhões para US$ 25,4 bilhões (saldo de US$ 2,6 bilhões para o
Brasil em 2013).
A exposição foi organizada pelo
Conselho de Embaixadores Árabes no Brasil e pela Câmara de Comércio Árabe
Brasileira. A entrada é gratuita e o acervo contém fotos, quadros, objetos de
arte, trajes típicos, banners, quadros, vasos e objetos de porcelana de
16 países.
* Texto atualizado no dia
26/04/2016, às 16h47, para correção de data no primeiro parágrafo referente ao
Dia da Comunidade Árabe no Brasil
Edição: Beto
Coura
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